quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O som que vem de dentro


Tenho um blog de moda além deste aqui, o moda pra voCê.

O segundo tem muito mais posts do que o primeiro, mas o primeiro tem cinco vezes mais visualizações de páginas do que o segundo.

O primeiro fala de moda, óbvio e o segundo fala de sentimento, mas já já vou falar de outras coisas também.

Certo dia me perguntei o porque e cheguei a uma conclusão muito simples e feliz, eu acho:  as pessoas querem muito mais ser felizes e não estar em constante reflexão sobre suas insatisfações, frustrações, lamentos... 

Mais do que isso, as questões da alma, dos sentimentos, ficam com a gente o dia inteiro, da hora que acordamos ao momento de dormir e tem gente que ainda sonha com aquilo que está inquietando.

Então, na hora da distração, de navegar na internet, bem melhor ler sobre moda, gente bonita, roupa bacana do que fuçar o que, de uma forma ou de outra, deixamos quieto dentro da gente, sem ninguém botar o dedinho na ferida.

Acho super justo, mas acho também que refletir sobre o que se tem por dentro é de uma grandeza enorme. Nos enriquece o auto-conhecimento, nos torna mais tolerantes conosco e com o outro e nos torna até mais interessantes, pois, quando tomamos conhecimento e propriedade do nosso EU e tudo o que nele está embutido (sensações, desejos, etc), somos mais capazes de emitir opiniões bem fundamentadas, elaboradas, analisadas e sinceras. 

Para falar de moda ou de qualquer outra coisa, é importante que tenhamos valores e estes ficam super elucidados quando damos uma chacoalhada no que tem por dentro.

Não acho que todo mundo tem de ficar se auto-analisando toda hora, você se tornaria um chato e perderia a espontaneidade. Sugiro que seja uma reflexão de leve, uma vez por semana ou por mês, pelo menos, através de uma leitura dos que já se deram ao trabalho de refletir e muito por nós: Fernando Pessoa, Rubem Alves, Nietche, Martha Medeiros, Olavo Bilac... Ou ainda, ouvir uma música do Chico Buarque, do Cartola, do Noel Rosa, do Lenine... São muitas as opções.

Tenha certeza de que sua alma vai te agradecer por aquele momento no qual você permitiu que ela fosse massageada, ou escutada, ou instigada. Se cair alguma lágrima, deixa rolar, é seu íntimo transbordando. Se der vontade de sorrir, permita-se, sem vergonha de quem estar ao seu lado, deixe as lembranças e as identificações com o autor surgirem. Você vai ver, ganhará um amigo.

Pra terminar, vai uma poesia do Olavo Bilc. Uma das preferidas do meu avô, hoje com 102 anos. Uma pessoa séria, trabalhadora, pai de 8 filhos, 21 netos e 17 bisnetos. Foi prefeito, delegado e um empresário de sucesso. O que mais admiro nele? O amor pelas poesias, o lado que se emociona ao declamá-las, o amor pelo Rio de janeiro... Enfim, pelo lado da alma que fala.

OUVIR ESTRELAS
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
(Poesias, Via-Láctea, 1888.)

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