quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A folia do coração


Nesta quinta-feira de pré carnaval, venho aqui falar de uma folia que muitos vezes anda escondida; a folia do nosso coração.


Nesta semana ouvi uma menina falar para um rapaz a seguinte frase que ouço muito nesta época do ano: "você quer fugir da folia, né?"

Salvo a pessoa realmente não gostar de carnaval e tudo que o envolve, como: samba, frevo, axé, cerveja, multidão, etc; ou ainda a criatura estar com um problemas de saúde, acho super estranho quem opta por "fugir da folia" por razão nenhuma.

Cansaço não é desculpa, pois o carnaval é no começo do ano e ninguém morreu de trabalhar até agora a ponto de ter que descansar.

Fico pensando que este "fugir da folia" do carnaval passa por algo mais profundo, que é o "fugir da folia do coração".

Ser feliz não é tarefa tão fácil assim quando somos adultos. Tem o stress do trabalho, do relacionamento com o marido/esposa, da preocupação com os filhos, e blá, blá, blá. 

Isso vai desgastando a gente e desencorajando-nos a buscar a tal felicidade. É como se o terreno daquela leve dorzinha constante da alma fosse conhecido e estranhamente confortável, pois certamente é muito mais fácil justificar pros outros as lamúrias, que são comuns a todos, do que a felicidade, que parece incomodar quem está perto.

Assim nós seres humanos vamos vivendo, acumulando problemas e lamentações e nos esquecendo de fazer folia dentro da gente.

Deixamos de enxergar a folia num por do sol, num banho de mar, a folia do sorriso de uma criança quando é elogiada, a folia no sair com as amigas, no atingir a meta no trabalho. A folia de uma roupinha nova, de um café à tarde com a mãe, a folia da alegria do seu pai quando você vai visitá-lo e vê em seu rosto que ele lhe enxerga como uma criança que nunca deveria ter saído de casa.

O ano vai passando e as pequenas folias vão se perdendo. Aí, quando chega o carnaval, o folião está acomodado, até com medo desse explosão de felicidade que o espera no carnaval.

Medo de não saber lidar com ela. É muita novidade ser feliz pra quem passou o ano optando por lamentar-se e acomodar-se no sofrer em vez de olhar o tal lado bom da vida, que é ótimo.

O fim de uma relação, por exemplo, pode ser uma excelente oportunidade para conhecer gente muito mais interessante.


Eu, não abro mão do meu bem estar, ainda que às vezes eu o perca por aí.

Estou de malas prontas pro Rio. Viajo amanhã pra me abraçar bem forte com a folia, com a alegria, com a multidão. Vou dar uma explosão de alegria pra minha alma neste começo de ano que é pra ela se acostumar. Pra que meu coração não bata simplesmente, mas batuque o ano todinho.

Bom carnaval, folião.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Mudancinha de leve



Nós mulheres, seres mega complexos, cheios de conflitos que vão desde "qual a cor do esmalte para o primeiro encontro (decisão dificílima, diga-se de passagem) até se o nosso relacionamento ainda está valendo à pena (mesmo tendo 3 filhos e vinte anos de casadas nas costas) vivemos querendo mudanças, ou pelo menos achando que devemos mudar.

Temos que mudar o hábito alimentar, mais verdura e frutas, menos gordura e fritura. Mudar  o guarda-roupa, mais clássica e chique, menos hippie e surfistinha. Mudar de namorado para um mais atencioso, menos ciumento, mais carinhoso... Como se a gente pudesse conciliar tudo num só (rsrs).

A gente nunca está satisfeita, está sempre se questionando se a educação dos filhos está correta, se a gente está engordando, envelhecendo, se nosso marido ou namorado ainda sente desejo por nós, e por aí vai uma séria de inquietações que levam ao desejo quase que compulsivo de mudar.

Queremos mudar para sermos sei lá o que, pois sempre teremos imperfeições, sempre algo estará fora de lugar, sempre teremos dias tristes e felizes e isto não significa que nossas escolhas estejam erradas. 

Estou  me convencendo que a felicidade não significa uma euforia, uma montanha russa cheia de emoções que te coloca em estado de êxtase o tempo todo.

A vida correta, isto é, a que te deixa em paz com as suas convicções (cuidado com elas, reveja-as sempre), pode ser exatamente esta que você já tem, com seus amigos, filhos, família, marido, amante ou sei lá como foi que você encontrou sua paz.

Então, quando der um desespero de mudança, não corre lá e termina o relacionamento ou faz uma dieta drástica que te adoece na semana seguinte ao algo radical do tipo. 

Vai no salão e pede pra cabeleireira cortar apenas um franjão, uma mudancinha de leve. Assim vc não se arrepende depois de ter feito um joãozinho quando a ideia era deixar o cabelo crescer e muda o visual, que vai renovar a sua auto-estima e te deixar mais calma.
Pelo menos pelos próximos sete dias (ou menos).

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Corações flexíveis



"Bem aventurados os corações flexíveis, pois eles nunca se partirão."
Linda a frase! Acabei de ouví-la da Cléo Pires em entrevista com a Marília Gabriela, mas ela é mesmo do Argeliano Alber Camus.
Pronto, referências feitas e créditos dados, vamos ao que me chamou atenção: Como, em um mundo com relações tão possessivas, com um modelo de felicidade católico/monogâmico, com o sonho sonhado para nós desde criança de casar e ter filhos podemos ter um coração flexível a ponto de não se partir ou se machucar?
Isso sem falar das outras relações de amizade, trabalho, paternal, filiar, etc. Como não permitir que um coração se parta?
Serão pessoas insensíveis as que conseguem tal proeza? As que não amam ninguém, não constroem laços e por isso não há nada pra ser quebrado, desfeito?
Ou serão pessoas tão boas e tão generosas que sempre vão encontrar uma forma de entender o próximo e perdoá-lo pelo possível sofrimento causado?
Eu, ainda digerindo e refletindo sobre o que esta frase quer me dizer, penso que não é nem uma e nem outra das opções acima, talvez um pouco de cada...
Acho que as pessoas de coração flexível têm de ter um amor incondicional, daqueles eternos e inabaláveis por si mesmas.
Isso não quer dizer que tal pessoa deva ser egoísta ou insensível, não mesmo. Mas ela tem de se amar o suficiente para acreditar que o ocorrido não é o fim do mundo, não vai gerar um caos e, principalmente, quem foi capaz de ocasionar tamanho (potencial) sofrimento, não pode ser merecedor de algum tipo de sentimento, seja ele de amor ou ódio.
Acho que o coração flexível é generoso sim, pois ele compreende e não julga, deve apenas afastar-se do que poderia lhe causar o mal.
Acho que esta grandeza de espírito é para muito poucos. Não fomos educados pra isso, abrir mão do que queremos, do que sentimos, do que achamos que deve ser nosso, ainda que isto seja o outro, que é tão móvel quanto nós e que hoje está aqui, mas amanhã pode estar sei lá aonde.
Gostaria de ter um coração mais flexível, certamente sofreria menos. Mas por enquanto, vou tentando ter um pensamento flexível, livre de julgamentos, sem mania de perseguição, com menos sentimento de culpa, olhando o lado mais verde e bom da vida.

Quem sabe um dia este pensamento flexível, que é razão, possa orientar minha emoção e assim meu coração, em vez de apenas bater TUM TUM, seja mais flexível e emita sons de samba, frevo, rock, pagode, brega... Vai ser uma festa!

O som que vem de dentro


Tenho um blog de moda além deste aqui, o moda pra voCê.

O segundo tem muito mais posts do que o primeiro, mas o primeiro tem cinco vezes mais visualizações de páginas do que o segundo.

O primeiro fala de moda, óbvio e o segundo fala de sentimento, mas já já vou falar de outras coisas também.

Certo dia me perguntei o porque e cheguei a uma conclusão muito simples e feliz, eu acho:  as pessoas querem muito mais ser felizes e não estar em constante reflexão sobre suas insatisfações, frustrações, lamentos... 

Mais do que isso, as questões da alma, dos sentimentos, ficam com a gente o dia inteiro, da hora que acordamos ao momento de dormir e tem gente que ainda sonha com aquilo que está inquietando.

Então, na hora da distração, de navegar na internet, bem melhor ler sobre moda, gente bonita, roupa bacana do que fuçar o que, de uma forma ou de outra, deixamos quieto dentro da gente, sem ninguém botar o dedinho na ferida.

Acho super justo, mas acho também que refletir sobre o que se tem por dentro é de uma grandeza enorme. Nos enriquece o auto-conhecimento, nos torna mais tolerantes conosco e com o outro e nos torna até mais interessantes, pois, quando tomamos conhecimento e propriedade do nosso EU e tudo o que nele está embutido (sensações, desejos, etc), somos mais capazes de emitir opiniões bem fundamentadas, elaboradas, analisadas e sinceras. 

Para falar de moda ou de qualquer outra coisa, é importante que tenhamos valores e estes ficam super elucidados quando damos uma chacoalhada no que tem por dentro.

Não acho que todo mundo tem de ficar se auto-analisando toda hora, você se tornaria um chato e perderia a espontaneidade. Sugiro que seja uma reflexão de leve, uma vez por semana ou por mês, pelo menos, através de uma leitura dos que já se deram ao trabalho de refletir e muito por nós: Fernando Pessoa, Rubem Alves, Nietche, Martha Medeiros, Olavo Bilac... Ou ainda, ouvir uma música do Chico Buarque, do Cartola, do Noel Rosa, do Lenine... São muitas as opções.

Tenha certeza de que sua alma vai te agradecer por aquele momento no qual você permitiu que ela fosse massageada, ou escutada, ou instigada. Se cair alguma lágrima, deixa rolar, é seu íntimo transbordando. Se der vontade de sorrir, permita-se, sem vergonha de quem estar ao seu lado, deixe as lembranças e as identificações com o autor surgirem. Você vai ver, ganhará um amigo.

Pra terminar, vai uma poesia do Olavo Bilc. Uma das preferidas do meu avô, hoje com 102 anos. Uma pessoa séria, trabalhadora, pai de 8 filhos, 21 netos e 17 bisnetos. Foi prefeito, delegado e um empresário de sucesso. O que mais admiro nele? O amor pelas poesias, o lado que se emociona ao declamá-las, o amor pelo Rio de janeiro... Enfim, pelo lado da alma que fala.

OUVIR ESTRELAS
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
(Poesias, Via-Láctea, 1888.)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

No divã com Martha Medeiros

Passei a vida toda, até agora, pois ainda tenho uma vida inteira pra ser diferente, me questionando, cheia de angústias, sentido-me inadequada, feia, errada...

Tinha medo de dormir longe da mamãe. Era, e sou ainda, insegura e blá, blá, blá. Fui um criança gordinha e isso me traumatizou, ok. Passei por experiências difíceis e isso me traumatizou, ok 2. 

Fiz terapia desde pequena e isso me ajudou muito, mas hoje estou chegando a conclusão de que tentar se analisar demais lhe faz pensar que os defeitos são só seus e que você precisa de uma "cura". Mas cura pra que? Pra si mesmo? Só se nascer de novo.

Não estou aqui invalidando a profissão de psicólogos e psiquiatras, muito pelo contrário. Ela realmente alivia muito a dor da alma, mas acho que é preciso ter cuidado pra não termos medo de simplesmente sermos e correr pra dentro de um consultório com angústias pequenas.


Minha "cura" tem se dado através dos livros da Martha Medeiros. 



Ela fala com tanta clareza, simplicidade e verdade sobre questões tratadas com tamanha complexidade que comecei a perceber que as tormentas da alma são universais, não estando euzinha errada ou inadequada por isso.


Uma delicia vê-la casada e mãe de duas filhas questionando sobre a felicidade formato "receita de bolo" que deve ser igual pra todo mundo, mas que muita gente não se adéqua a tal receita. 


Falando sobre os desafios da maternidade e os da não maternidade. Falando sobre amores, amantes, amizades, velhice, morte nossa e dos nossos. Assuntos que nos causam tanta dor, medo, ansiedade, culpa, mas que são inerentes à condição de estarmos vivos.

Li mais de 400 páginas de Martha Medeiros, mas nenhuma me surpreendeu mais quanto a que ela diz não fazer análise. Como pode uma pessoa que trata do eu com tanta propriedade nunca ter tido alguém pra analisar seu id, ego e superego?


Como pode? Claro que pode, ela simplesmente vive e bota pra fora através dos textos maravilhosos o que ela sente. E melhor, compartilha com o outro aliviando o peso do mundo que carregamos nas costas.


Cara Martha, não sei se já estou curada, acho que a busca por respostas só acaba quando finda a vida, isto é, se não tiver nada do lado de lá.  Mas deixo aqui o meu Muito Obrigada pelas terapias a precinho de banana que faço todas as noites e que enriquecem demais minha alma, minha vida.




Vida longa à você .


Checklist da vida




Lendo, e amando, o livro da Martha Medeiros (3 em 1), acabo de me reconhecer um pouco mais. 


Na crônica"Entrevista" a autora comenta que certa vez em uma entrevista, estava pronta para falar sobre livros e tudo o mais que ela já sabia  responder,quando a repórter surpreendeu-a com perguntas do tipo: "Qual foi a última vez que você gargalhou de verdade?" Qual a foi a última vez que ela havia apertado a mão de alguém e tinha sido surpreendida? Qual a última vez a qual contribuiu para uma instituição de caridade? 


No texto, Martha fala que estamos tão acostumados a seguir os itens da agenda, o dia a dia de trabalho, que nos esquecemos do resto e é exatamente este "resto" o importante. Foi aí que me reafirmei.


Eu sou exatamente o oposto. Trato o meu emprego com muita responsabilidade, mas ele está realmente em segundo plano. As pessoas e as emoções me interessam mais.


Preocupo-me com a felicidade dos meus sócios, com a doença dos meus funcionários e morro de pena de quem trabalha domingos e feriados. Tenho uma dó danada dos que trabalham no dia das mães, dos pais, natal... Juro que preferia os shoppings fechados e as pessoas, que eu nem conheço, em casa com os seus.



Lembro-me, e valorizo cada dia mais, dos 15 minutinhos chegados atrasados para um compromisso por ter ficado conversando com meu pai e descoberto que ele dialoga sozinho igual a mim, enquanto minha mãe ria da loucura de nós dois.


Opto por ganhar um salário menor que meus sócios para não ter de trabalhar nos finais de semana e para poder chegar mais cedo no prédio e ouvir a gritaria dos meus sobrinhos brincando do play. 

Poder visitar o meu avô de 102 anos na hora do lanche da tarde é tarefa semanal e não abro mão dela.

Quem me lê agora deve estar pensando: "é malandragem!", "ela está com a vida ganha" e coisas do tipo. Eu mesma já me culpei por isso.

Que nada! Trabalho para empresas, dou aulas na universidade, mas meu checklist principal está em coisas intangíveis e não "ticáveis".



Sou muito mais emoção do que razão. "Tenho dificuldades com lugares aonde o sol não entra" (essa frase também é da Martha Medeiros). Tenho horror a escritórios e Torres comerciais me dão fobia.


Sou pássaro, sou sonhos e sou abençoada por poder seguir assim, curtindo, valorizando e enchendo a minha agenda de sensações misturadas com as tarefas.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Certo e Errado



Desde pequenos aprendemos que na vida tem o que é certo e o que é errado, o que é preto e o que é branco.

Aprendemos que estudar é certo, faltar aula é errado, dizer a verdade é certo, mentir é errado. Ser educado é certo, mas gritar, fazer bagunça e birra é errado...

Aí a gente vai crescendo e entra no mundo o dos jovens e: beber é errado, manter-se sóbrio e dar bons exemplos pros irmãos mais novos é certo. Ficar com mais de um garoto no final de semana é terrível, fazer-se de difícil te faz a mulher mais virtuosa do mundo. Inventar pro pai que vai dormir na casa da amiga e sair pra uma festa imperdível é errado, ficar em casa lendo um bom livro aos 17 anos é que é certo...

Viramos adultos e o tribunal do certo e errado, atormentado pela culpa que a cultura, a sociedade e nós mesmos nos impomos torna-se ainda mais rígido. Não nos permitimos errar no trabalho, na família, na vida. Passou num concurso público? Vai ter de ficar naquele inferno pro resto da vida, pois você seria um homem ou mulher morto por sua família de trocar “o certo”, que você odeia, por uma carreira de escritor que está te chamando há anos.

Tornamo-nos ainda mais severos, mais cheios de regras e passamos a reprimir sentimentos, vontades, desejos, espontaneidade e tudo o mais que muitas vezes é considerado um lado negro seu.

Porém a verdade é que somos os dois lados da moeda. Somos o lado negro e o lado branco de uma mesma pessoa. Somos santas e putas, honestas e corruptas, educadas e estúpidas, meigas e cruéis. Nós somos profissionais e vagabundas, gostamos de praia e de serra, de balada e de aconchego, sentimos amor e ódio... Tudo isso nos representa em momentos diferentes da nossa vida.

O que é completamente errado é quando nos fazemos mal ou o causamos para alguém.

Dado isto, às vezes a mentira é necessária, ser um mal educado e gritar com uma pessoa pode ser a solução para acabar com a hipocrisia. Ser um bagunceiro na infância pode dar vida a um exímio artista super criativo na vida adulta. Ficar com mais de um garoto no final de semana, tomando os devidos cuidados, pode ser apenas uma tentativa de encontrar o amor certo, ou de viver a vida mesmo, beijar na boca, porque é bom demais.

A vida seria mais leve se pudéssemos ser menos julgadores e mais “vivedores” de nós mesmos e do próximo. Conjugar nossas emoções sem carregar tanto sentimento pesado nas costas. Permitir dar uns tropeços pra acertar depois e entender que a vida não se encerra em um trabalho, um filho, um projeto, uma doença, um casamento... A vida é um ciclo, a gente muda, o entorno muda e pode ser que o que era certo ano passado, deixou de ser neste e que agora é se adaptar.

Como bem disse Nietche, o contrário da inteligência não é a burrice, mas as convicções. Reveja as suas com frequência e liberte-se. Viva!


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

AMOR igual




Sexta-feira passada foi ao ar o último capítulo da novela Amor à Vida, que ao longo da trama construiu como seu casal protagonista, um casal gay.

Talvez pelo brilhantismo dos atores que interpretaram os pombinhos Félix (Matheus Solano) e Niko, carneirinho (Thiago Fragoso) e pela genialidade do autor em não estereotipar a relação gay, nem tratá-la com brutalidade ou afetações demais, ou seja, configurar a esta relação o que há de mais normal em todas elas, o AMOR, o que aconteceu ontem foi um lindo beijo gay em pleno horário nobre.

Um beijo gay que não veio pra provar que “os gays também podem”, nem pra chocar, nem pra agredir, simplesmente para coroar o mais sublime gesto de amor entre duas pessoas que, como qualquer outra, sofreram, erraram, foram injustiçadas por terceiros e deram a volta por cima e foram felizes... Pelo menos até agora, pois o “pra sempre” é tema pra outro post.

O que mais me chocou na tal cena do beijo foi a furor que causou nas mais ou menos dez pessoas que estavam assistindo à novela comigo. Era tanto julgamento e insultos do tipo “viadagem”, “essa globo é sem vergonha!!!” e outros piores, que me entristeceu.

Será possível que as pessoas ainda não se deram conta de que uma relação homoafetiva é exatamente igual a uma relação heteroafetiva? Existem brigas, desavenças, traições, crianças, babás, família chata, sogro e sogra, tios legais e tudo o mais que configura uma “família normal”?

Aliás, usar a palavra “normal” da forma que vem sendo aplicada para o conceito de família é, per si, um preconceito, pois é afirmar que o que não é papai, mamãe e filhinhos, é anormal.

Faço parte, então, de uma família “anormal”, pois nem me casei, me juntei com o meu marido que tem 20 anos a mais do que eu e dois filhos com outra mulher. Anormal? Então aquelas duas mulheres que resolveram dividir as dificuldades da vida juntas e adotar duas crianças carentes cujos destinos poderiam ser o das drogas, o das ruas?  Anormal? E aquele pai que se dedicou anos a sua família “normal” e depois se descobriu gay, formou outra família, mas continua a dar todo o carinho e assistência para os seus?  Anormal?

Anormal é o preconceito que cega e não nos permite ver que no que se convencionou diferente existe algo muito igual ao que sempre foi. Que pretos, brancos, índios e pardos, gays, deficientes físicos, todos somos capazes de exprimir os sentimentos mais sublimes  e os mais aterrorizantes também. Somos capazes de ser generosos e muito cruéis quando queremos, gostamos e odiamos pessoas e coisas... Somos absolutamente iguais.

O que diferencia as relações, portanto, não é a opção sexual de cada um dos pares, mas o tão simples e difícil de ser encontrado, o AMOR.

Onde existe AMOR não pode existir preconceito, nem dor, nem xingamentos, nem esconderijo, nem rejeição... O amor é verbo com várias conjugações. É solução. É artigo de luxo. É loteria.