domingo, 1 de junho de 2014

Cultura da reclamação


Atualmente em nosso país o que mais se vê são manifestações. De toda sorte, em todo canto, de vários tamanhos contra um monte de coisa. É copa, é corrupção, é roubalheira, são os 20 centavos no aumento do ônibus, são os melhores salários e a lista é sem fim.

De fato, o que não nos falta no Brasil são motivos para reclamar e protestar. Não temos saúde de qualidade, nem segurança nas ruas (nem em casa), não temos escolas que ensinem algo que preste, não temos saneamento básico e a lista é sem fim.

Artigos e mais artigos e opiniões já foram dadas sobre o tema e eu apoio muitas delas. Num país democrático, a nossa arma é mesmo a voz e sabemos que a "união faz a força".
Contudo, em meio a esta onda de protestos, percebo outra onda surgindo e esta para mim é muito perigosa: é a cultura da reclamação.

Hoje em dia é muito mais fácil ser do contra do que a favor, então, as coisas que dão certo, ainda que não sejam tantas, entram no bolo da reclamação.
Sei que muita gente vai discordar, mas no país do manifesto e da democracia, eu me sinto no direito de soltar meu verbo também.

Em minha cidade iniciou-se uma manifestação para a construção de ciclovias. Acho que nunca havia ouvido falar disso por aqui. A população até fez uma faixa bem mal feita nas ruas como protesto e a prefeitura resolveu fazer a ciclo-faixa conforme manda a lei. Adivinhem? O povo tá reclamando.

Reclamam porque dizem que quem fez a manifestação são pessoas que nem precisam de bicicleta, reclamam porque atrapalha o movimento dos carros, reclamam porque é muito pouco; e do alto de seus carrões vão dando seus palpites do contra.

Dia desses a manifestação era sei lá aonde para o voto não obrigatório. Quer se eximir de votar? Então não reclama do sistema.

Sempre tive medo dos sub-movimentos que se formam, ainda que baseados em fatos reais, com as pessoas muito dramáticas, que é a maioria. Acho que isso nos coloca em uma situação ainda pior, pois nos deixa cegos para os caminhos do bem que possam se abrir. Sei que parece uma visão muito romantizada, mas não é. Quado se dá muita ênfase para algo ruim, a tendência é a de que só olhemos para isso e esqueçamos de ver como nós podemos ajudar a melhorar o que está aí.

Como?

Respeitando garçons, porteiros, babás, pedreiros, negros, homossexuais, etc, etc, etc. Tendo compaixão com o próximo (ontem vi uma cena na qual um pai brincava com o filho de 4 anos no prédio e fingia, ou não via, um coleguinha do filho da mesma idade, com as mãos na grade, louco pra brincar e ele foi solenemente ignorado).

Como? 

Ensinando desde cedo que agregar vale mais do que excluir, que as pessoas são todas iguais e tem o mesmo valor, que elevador de serviço não é para empregados, mas para os que estão em serviço que os tais empregados são gente como qualquer outra.

Quero fazer uma manifestação contra o ser humano. O que forma fila dupla, o que para em vaga de deficiente sem ser, o que joga papel pela janela do carro, o que fura fila, o que não admite os erros, o que tem inveja, o que difama, e tantos outros que são os corruptos "sutis", ou os bandidos que aprendemos e toleramos conviver.

Não se enganem, os tais políticos ladrões nada mais são do que pessoas como nós com o poder na mão.

Portanto, antes de sair por aí reclamando do que está acontecendo (e tem de reclamar mesmo, vamos nos manifestar dentro de casa, dentro do carro, em nossos bairros. 

Melhorando a parte, a gente consegue melhorar o todo.

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