quinta-feira, 1 de maio de 2014

Pra morte a gente conta com a sorte


Fulano morreu num acidente, coitado. Sicrano morreu num desastre de avião, coitado. Beltrano enfartou, coitado...
Vivemos ouvindo essas notícias em nosso dia-a-dia e torcendo pra que ela não seja com algum parente próximo. Lamentamos, ou não, sofremos, ou não, depende de com que foi.
A verdade é que, pra morte, a gente só conta com a sorte. Viver é um lapso que pode durar mais pra uns e menos pra outros.
E como toda sorte, a gente precisa dar um forcinha pra ela aumentar. Para isto nos cuidamos, nos alimentamos bem, fazemos exercícios, evitamos zonas perigosas para evitar balas, tem gente que prefere ir de ônibus pra não subir no avião, vamos a médicos regularmente e por aí vai. Assim aumentamos a nossa sorte de estarmos vivos.
Mas aí vem o tal dia que ela chega. Vem sem avisar, sem pedir licença, sem perguntar se pode entrar e invadir uma casa, destruir um lar, uma família. Ela vem soberana e prepotente sabendo que é maior, ser superior a qualquer fortaleza que possamos criar contra ela.
Não adianta chorar, espernear, revoltar-se. Não adianta tentar adiar, nem pedir ela dar só mais um pouquinho de tempo pra gente se preparar pra despedida. A morte não tem ouvidos, muito menos coração.
Porém, contra morte o ser humano tem um dom infalível. É maior do que ela e dura muito mais tempo do que uma única vida. São as lembranças. É o legado que deixamos para nossos filhos, tios, primos, amigos e para todos que convieram conosco.
Lutemos, então, não contra a morte, mas a favor das boas lembranças na cabeça e no coração dos que amamos, para que possamos sobreviver além da dela.

Como bem falou Martha Medeiros, a gente só morre quando a última pessoa que se lembra de nós morre.  O bem, então, será a nossa arma mais pura, linda e leve contra o que, até então, achávamos que não poderíamos lutar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário