Fulano morreu num acidente, coitado. Sicrano morreu num
desastre de avião, coitado. Beltrano enfartou, coitado...
Vivemos ouvindo essas notícias em nosso dia-a-dia e torcendo
pra que ela não seja com algum parente próximo. Lamentamos, ou não, sofremos,
ou não, depende de com que foi.
A verdade é que, pra morte, a gente só conta com a sorte.
Viver é um lapso que pode durar mais pra uns e menos pra outros.
E como toda sorte, a gente precisa dar um forcinha pra ela
aumentar. Para isto nos cuidamos, nos alimentamos bem, fazemos exercícios,
evitamos zonas perigosas para evitar balas, tem gente que prefere ir de ônibus
pra não subir no avião, vamos a médicos regularmente e por aí vai. Assim
aumentamos a nossa sorte de estarmos vivos.
Mas aí vem o tal dia que ela chega. Vem sem avisar, sem
pedir licença, sem perguntar se pode entrar e invadir uma casa, destruir um
lar, uma família. Ela vem soberana e prepotente sabendo que é maior, ser
superior a qualquer fortaleza que possamos criar contra ela.
Não adianta chorar, espernear, revoltar-se. Não adianta
tentar adiar, nem pedir ela dar só mais um pouquinho de tempo pra gente se
preparar pra despedida. A morte não tem ouvidos, muito menos coração.
Porém, contra morte o ser humano tem um dom infalível. É
maior do que ela e dura muito mais tempo do que uma única vida. São as
lembranças. É o legado que deixamos para nossos filhos, tios, primos, amigos e
para todos que convieram conosco.
Lutemos, então, não contra a morte, mas a favor das boas
lembranças na cabeça e no coração dos que amamos, para que possamos sobreviver
além da dela.
Como bem falou Martha Medeiros, a gente só morre quando a
última pessoa que se lembra de nós morre. O bem, então, será a nossa arma mais pura,
linda e leve contra o que, até então, achávamos que não poderíamos lutar.
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