Dia desses ouvi do meu marido que tudo meu é de "caráter experimental". Ouvi esta frase, a priori, desmotivante, após ter dito que faria uma aula experimental de sapateado.
Aí ele me recordou que comecei a surfar e parei, comecei um curso de bateria e parei, comprei um teclado e parei... E olha que ele se esqueceu que eu comecei um curso de desenho e parei.
É, olhando sobre este ponto de vista, realmente eu estou experimentando coisas e não estou ficando... E daí?
Refleti sobre isso e penso que ainda bem que após os 30 eu me permiti experimentar um monte de coisas das quais sempre gostei, mas nunca havia metido a mão na massa.
Os 30 são libertadores por isso. A vida financeira já está mais estabilizada e você pode começar a desviar sua atenção para outras coisas que te movem, te moverão ou não, mas valeu a pena tentar. Valeu er assunto pra falar e história pra contar.
Pra mim não há nada mais patológico do que alguém que não descobre novidades, que vive a vida apenas como ela se apresenta, sem buscar algo novo que possa surpreender.
Tenho horror a coisas que não mudam, que permanecem intactas e inabaláveis, sejam opiniões, desejos, vontades e atitudes.
Se eu fosse seguir na mesmice, não teria viajado pra Londres e nem pra Nova York (preconceito mesmo) e estaria até hoje ouvindo apenas Zezé de Camargo e Luciano (e não teria conhecido o Chico... cruz, credo!). Já imaginaram que perda de tempo e de VIDA?
Velho é quem se deixa acomodar.
Já eu, seguirei experimentando coisas que me agradam, ou que pelo menos eu acho que sim, até o quando eu bem entender, ou seja, sempre.
Como bem diz o poeta, "eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo".
E você? Vamos nessa sapatear, surfar,desenhar, tocar e se jogar comigo?
Pensando aqui num tema bem interessante para escrever, após alguns dias de ausência, e nada de tão especial, apesar de muitos acontecimentos especiais atualmente, me ocorria.
Percebi, então, que o especial está justamente no andar da carruagem que é a nossa vida. Caminhos ora difíceis, ora dramáticos, ora doídos, ora floridos, ora excitantes, ora mágicos, ora perigosos, ora emocionantes... Ora!
É uma ida deliciosa à Nova Iorque e a descoberta de que tudo aquilo que você exita em conhecer é perda de tempo.
É um exame surpresa meio sério do seu pai que te faz unir-se ainda mais a ele e a sua mãe e o momento do hospital ser o local mais do que aconchegante, onde pai, mãe e irmão conversam sobre saúde, viagens, preocupações, comédias...
É o vô que, ainda que bem velhinho, tinha uma saúde de ferro e começa a dar alguns problemas e bate aquele amor maior, aquele medo, aquela resignação.
É a visita que chega em casa e a hora de sorrir, mostrar que tudo está bem, pois são pessoas muito queridas, mesmo não estando.
É a conversa com a prima na mesa da cozinha como nos velhos tempos, é a ligação pra outra que não te contou que estava com um problema, mas você soube e, como quem não quer nada, abre espaço pra ela desabafar. É a união de umas para garantir a alegria da outra.
É uma saudade imensa do que estar por vir. Contraditório isso, né? Mas acontece no dia a dia.
É o negócio que poderia estar melhor. É a esperança que não se pode perder. É a fraqueza que não se deve demonstrar. É uma praia linda, um sol que acalma, é o mar.
É uma vontade de sair correndo pra devorar a vida antes que ela te cobre a dádiva de estar vivo. O que você está fazendo pra merecer a vida? A vida é pra quem merce, baby, não pra quem se lamenta o tempo todo.
É o Cotidiano. Com letra maiúscula, porque aqui ele é sujeito com nome próprio, ele é quase uma pessoa, sua companhia de todas as horas.
É ele que pode não ter nada de revolucionário no momento e no segundo seguinte lhe fazer flutuar, ou desabar.
Mas é com ele que a gente deve se entender, seja qual for a nossa escolha, certa ou errada, insana ou pacata, é ele quem vai no dia seguinte lhe dar a oportunidade de sempre seguir em frente, no seu tempo, do seu jeito.