Toda vez, nesta época do ano, mais ou menos no final de
Novembro, eu me desorganizo.
Começa a me dar uma sensação deliciosa de férias, de festa, de
gente chegando para os festejos de final e começo de ano, de praia, de sol, de
brincadeira... Fico perdidinha.
Se não tiver todas as reuniões e afazeres que a vida adulta
nos cobra anotadinho, bem direitinho na agenda, tenha certeza de que vou faltar
reuniões importantes, vou esquecer de fazer o que havia combinado, esquecer de
pagar contas (isso eu já faço o ano todo, mas piora) e por aí vai.
Certo dia, fiquei refletindo sobre esse movimento que
acontece todo ano, só que eu não tiro mais férias nesta época há, pelo menos,
10 anos, e cheguei a conclusão que o problema é àquela criança que todo mundo
fala que nunca morre dentro da gente. Pois é, a minha ressuscita com tudo no
final do ano.
Lembro-me muito bem que por essas épocas eu já estava de
férias. Sempre passei por média e nunca precisei ficar mais um mês naquele
martírio que era a escola. Era fazer a prova final num dia e no mesmo dia já ir
dormir mais de meia noite brincando no play do prédio de “salve”, polícia e
ladrão, vôlei, jogando conversa fora, etc, etc,etc.
Éramos mais de 20 primos, mas até o final do mês de dezembro
éramos apenas a metade, pois a outra sempre ficava “de recuperação”. Não tinha
jeito, a turma dos que passava por média insistia para eles estudarem mais
provas finais, ajudava, dava força, mas os coitados não conseguiam e perdiam um
mês das férias e ainda comprometia a nossa.
Coisa boa era quando a gente recebia a notícia de que a
metade sacrificada havia passado de ano... Aí era só alegria.
Era a expectativa pra saber quem seria o nosso amigo secreto
do natal, depois pra ensaiar a apresentação de natal, depois viajar pra casa de
praia onde passaríamos um mês inteiro acordando, indo à praia, brincando de
tudo o que se puder imaginar nas dunas, na casa da tia Zena, nas outras casas,
andando de buggy, mobilete... Aff! Que saudade!
Sei que isso tudo são minhas lembranças, fazem parte do meu
passado e que lá deveriam estar, mas não tem jeito. A alegria transborda com um
misto de saudade e de inquietação por sentir algo que não tenho mais.
Tento então criar um mundo paralelo, no qual eu vou
disfarçando com a seriedade de um adulto que tem de tomar decisões que vão
salvar o mundo, mas com o coração cheio de alegria indo comprar presentes de
natal ou dando uma escapadinha pra um banho de mar no meio da semana.
É o eterno desafio de crescer e tentar deixar no passado o
que à ele pertence. Ah! Se eu pudesse!
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